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Foto do escritorLuis Bernardes

8. Segredos da Pérsia | Dia 7 | 2024.04.12

Atualizado: 22 de abr.


Dinheiro.

É o país com o custo de vida mais barato que tive até hoje. A inflação prevê-se atingir os 67% em 2024.


Ou seja, o dinheiro vale mesmo pouco. O que obriga, nós estrangeiros, a andar com muitas centenas de notas. Cada dia levamos dois maços de 100 notas. Cada nota tem o valor de cem mil Rials. Cem mil Rails valem poucos mais de 20 cêntimos.


Já nos habituámos a lidar com esta realidade. Os iranianos é que não acham assim tanta piada quando vamos a pagar. Cada almoço ou jantar nosso significa mais de 200 notas. Por exemplo ontem o jantar foram dois milhões e cem mil Rials (3, 20€) por cada um. Foram 21 notas por cada um. Ontem éramos onze, resultado 231 notas.


Literalmente todos, os iranianos têm cartão multibanco. Com a desvalorização que o dinheiro tem seria impraticável andar com tantas notas para o dia a dia da população. Assim, até a vendedora de fruta mais humilde tem um terminal multibanco para pagamentos. Nem nos países europeus tinha visto coisa assim.


Bem, hoje tenho uma má notícia. Parece que não vou conseguir publicar mais fotos no blog. Atingi a cota máxima. Tentei fazer upgrade mas os bancos portugueses já me bloquearam as contas por estar no Irão. Veremos como consigo gerir a coisa.


Hoje, provavelmente será o dia da crónica mais curta até agora. Mais um dia de viagem.


Começámos cedo já com o sol a não dar tréguas. Bam é conhecida pela sua cidadela construída em Adobe. Parece um castelo de areia como fazemos na praia. Só que em ponto grande. A sua construção e importância ao longo de muitos séculos deve-se ao facto de ser uma das estradas das Rotas da Seda. Digo, Rotas e não rota, pois ao longo dos séculos foram existindo e coexistindo várias rotas.


Hoje continua a ser um dos principais pontos de passagem para o Paquistão e Afeganistão.


Bam ficou conhecido também pelas piores razões. Em 2003 ocorreu um terramoto, com o epicentro perto de Bam, e que provocou mais de 30.000 mortos. O terramoto foi só de 6, 5 na escala de Richter, mas devido ao tipo de construção das casas e ter sido às 05 da manhã teve este resultado.


A cidadela com origem há alguns milhares de anos também ficou totalmente destruída. Poderiam deixar em ruínas como muitos puristas gostam e como nós temos muitos castelos que não entendo bem porque não são reconstruídos, mas isso não é conversa para aqui.


Dizia,  toda a cidadela com o castelo incluído estão a ser reconstruídos sob a supervisão da Unesco e com contribuições de vários países do mundo. Já uma grande parte está reconstruída recorrendo ao mesmos métodos e técnicas ancestrais.


De volta à estrada. A paisagem entretanto mudou. Do verde que ontem tínhamos passámos para o castanho à medida que nos vamos aproximando do deserto. Mudam também as pessoas, as vestes.


Na primeira paragem que fizemos já encontramos esta nova realidade.


Enquanto o nosso Hussein aproveitou para fazer a sua reza, primeiro lavou os pés e só depois rezou.  Comprámos figos secos, amêndoas, cajus, queijos, alperces, sementes de girassol.. juntando tudo, já temos almoço. No carro também já levamos uma melancia, que na primeira paragem foi oferecida ao Filipe por um motorista e ainda teve direito a subir ao imponente camião Mercedes.


Nesta paragem estava um grupo de homens e crianças do Balushistão. Povo ignorado pelo governo iraniano e que descem, principalmente à cidade de Yazd, para irem ao médico, pois todo o Balushistão sofre da inexistência de Infraestruturas.


Como, com frequência, tem acontecido com os iranianos que nos pedem se podem tirar fotografias, também nos pediram. Acabei de fazer uma das selfies da minha vida. Com sorte amanhã ja sairá outra melhor.

Estamos a 2 mil metros. Ao longe vimos as montanhas com mais de 4 mil metros ainda com gelo. Mas o que nos espera é o calor do deserto.


A paragem para o almoço não demorou muito. Almoço em Mahan. Chegada com algum trânsito na avenida principal que rapidamente desapareceu. Hoje é sexta-feira, o dia Santo. O domingo do Irão e do resto do mundo muçulmano. Frango ao almoço, 1 milhão  e cem mil Rials - 2,15€. Pelo andar da carruagem vou conseguir viver com os meus 400€😁, veremos. Mas o fim do almoço teve um momento alto. O nosso líder estava a fazer uma vídeo chamada para os pais. Falei com eles, claro elogiando o filho. O Pai, grande benfiquista, estava com um boné do Benfica, embora agastado com a exibição de ontem. A mãe, também muito simpática respondeu aos elogios do filho com um “e também tenho uma filha”. Amor de mãe é amor de mãe, sempre protegendo toda a “ninhada”.


Depois do almoço o início de viagem começou com uma sesta de pouco mais de 15 minutos. Acordei com uma curva mais apertada que me ia fazendo saltar do meu banco. A paisagem é já de montanhas totalmente castanhas. A estrada contorna os desfiladeiros. Os leitos dos rios estão perfeitamente definidos na paisagem, mas água não há. Não estamos na época das chuvas. Por esta altura os leitos dos rios secam totalmente. O céu, como tem acontecido nos últimos dias está nublado. Veremos se temos ainda a sorte de terminar o dia a ver o sol no deserto.


A estrada já passou a uma faixa para cada sentido. Mas sempre estrada boa e com pouco trânsito.


Pouco depois da 16:00 chegamos ao nosso destinado. Foi só cumprimentar os nossos anfitriões e seguir para o deserto. Este deserto é incrível, impressionante, de suster a respiração como todos os desertos.  É o deserto de Kalutse. Aqui, a NASA, registou a temperatura mais quente da História. Foram 71°C. É gigante, com formações que parece estarmos no espaço e que chegam aos 300 metros de altura. Sendo uma sexta feira havia muitas pessoas a desfrutar tal como nós. Encontrámos também 3 espanholas da embaixada de Espanha em Teerão, simpáticas e ainda tiveram direito a beber um chá connosco. Ficámos até ao pôr do sol. Magnífico, mesmo não estando o céu limpo.


Hora de regresso e de conhecer o leito da dormida. Um empreendimento novo, tão novo que ainda não está totalmente feito. Já começou a obra há mais de dois anos, mas como vou observando as obras no Irão têm um ritmo de execução muito próprio. Jantar em casa dos donos do alojamento e dormir. Amanhã pretendemos ver o nascer do sol no deserto, mais umas voltas e estrada. Acabarão assim estes três dias frenéticos de muitos quilómetros.



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