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Foto do escritorLuis Bernardes

6. Segredos da Pérsia | Dia 5 2024.04.10

Atualizado: 21 de abr.



Mártires

Muitos mártires tem o Irão.

Em grandes cartazes, em pequenos cartazes, por ruas e ruelas existem imagens dos mártires. Mártires são indivíduos que morreram ao serviço do exército ou alto cargo do Estado.


Grande parte deles são os mortos na guerra entre Irão e Iraque que se estendeu de 1980 a 1988.


Morreram cerca de um milhão e meio de pessoas. Não teve vencedor nem vencido. Eram

tempos de Saddam Hussein no poder no Iraque e do Aiatolá Khomeini no Irão.


O que choca nas fotografias dos mártires é ver que muitos nem 18 anos tinham. Também existem os novos mártires e de maior importância para o regime, como é o caso do todo poderoso General Qassem Soleimani, morto por um drone americano, em 2020.

O General tem mesmo direito a ter a sua imagem ao lado dos Aiatolás.


Mas a propaganda é uma máquina bem oleada. E já criou um novo mártir de relevo. Com o recente assassínio do General Razi Moussavi, na embaixada do Irão em Damasco. Importante figura da Guarda Revolucionária. As imagens deste General já aparecem em cartazes na rua e nas mesquitas e em vários deles também ao lado dos aiatolás.


De volta a Ormuz e acordar ao som do Mulá. Por volta das 05:30 da manhã o Mulá de Ormuz começou o sermão.  O problema é que parecia que estava a falar ao meu ouvido. O sermão demorou mais de uma hora. Mais de uma hora tive o Mulá no meu ouvido. Ali juntinho à minha cama com um colchão de 1 cm de espessura.


Naturalmente não percebi uma palavra do seu longo sermão, mas posso garantir-vos que o homem estava chateado. Talvez zangado por em Ormuz tanta gente não observar o Ramadão a preceito, quem sabe.


Depois de perceber que o homem não se calava levantei-me por volta das 07:00. Olhei para o quarto e já poucos restavam deitados.


O pequeno almoço era só às 09:00, pelo que decidi dar uma curta volta. O sol, calor e humidade já castigavam. Sombras, nenhumas.

Os miúdos passeavam de mota pela marginal. Logo que cheguei à marginal passei pelo Tok Tok do nosso Ahmad que cumprimentei com prazer. Cumprimento retribuído. Outros miúdos andavam a tirar selfies e claro lá tirei eu uma com eles. Esta terra seria o paraíso do nosso Presidente Marcelo. Adoram tirar fotografias e adoram selfies.


Ainda passei junto ao nosso Forte e voltei pelas ruas labirínticas a casa. Consegui não me perder.


Por esta altura já os locais regressavam da mesquita. Hoje todos de túnica branca e as mulheres com os seus melhores lenços. É o primeiro dia do fim do Ramadão.


Hoje, como espero sempre, os objetivos são poucos mas bons.


Basicamente visitar o que resta do Forte da Nossa Senhora da Conceição, construído em 1505 e ocupado pelos portugueses entre 1515 a 1522. Ponto estratégico para o controlo das rotas marítimas do intenso comércio que existia na época.


Até à hora de almoço estávamos por nós. Com o calor a castigar fomos até um café na marginal com o mar à nossa frente. Mais um café com uma boa vibe, muitos turistas e sempre conversadores.


Lá fora continuavam as danças das motas. Desde miúdos de 7, 8 anos até bem mais velhos, passam o dia a dar voltas de mota. Vão diis, três às vezes quatro, numa mota. Os Tok tok’s também sempre a passar num grande frenesim a ir buscar turistas ao porto para distribuir pelos alojamentos e voltas à ilha.


Esta ilha tem uma vida bem diferente do continente. Ha mais liberdade. Vimos cada vez mais homens de calções e mulheres sem o hijab (lenço na cabeça). Álcool nunca vimos, mas esta é a ilha da libertinagem. Bebe-se álcool e fuma-se uma ervas. Esta manhã, no paredão da marginal bem senti o cheiro. Mas a qualquer momento alguém pode ser preso pela polícia dos costumes.


Depois do almoço, foi a casa do Ahmad buscar as malas despedirmo-nos da família do Hamad, com muitas fotografias pelo meio e a senhora sempre a falar connosco em Farsi, como achando que nós percebíamos. Muito simpática, sempre atenta e prestável.


Duas e meia da tarde hora de apanhar o barco. No início o mar estava um pouco agitado mas nada de grave. na televisão passava um filme do Poirot, dobrado em Farsi. Em poucos minutos adormeci. Acordei mesmo a chegar a Bandar Abbas. Cidade com um importante porto de comércio. Tínhamos o nosso Mansour e uma nova personagem a introduzir nesta História. De

seu nome Hussein. Será o nosso condutor para os próximos 3 dias. Não fala inglês mas muito simpático e já um conhecido de longa data do nosso Fábio.


Antes de sair de Bandar Abbas ainda fomos à praia. Sendo feriado a praia estava cheia. Claro, todos vestidos como andam normalmente na rua. Vão à praia mas não ao mar. Molham os pés. A maré estava vazia e alguns até molhavam os pés. Na praia, com muito lixo, havia motos de água, muitos cavalos e até camelos para alugar. Um caos fantástico e muito interessante de observar.


Descompressão feita, café tomada era hora de testar a nossa Fiat Ducato Multijet 1200. A nossa carrinha privada. Um autêntico luxo. A logística dos transportes públicos para Minab, a nossa próxima paragem era complicado pelo que se optou pelos serviços do Mansour + Hussein. O Mansour viria sempre pois é obrigatório que um grupo seja acompanhado por um guia devidamente certificado pelo Ministério do Turismo, como é o caso do Mansour.


A viagem durou cerca de uma hora por uma via rápida de duas faixas e sem grandes solavancos. Aproveitei para escrever parte da crónica de hoje. Esta noite ficamos no Hotel Tourism Minab pertencente a uma cadeia de hotéis do estado iraniano. Para nós, um verdadeiro luxo. Um hotel modesto mas com os nossos padrões. Duas toalhas na casa de banho para cada um. Camas impecáveis, televisão, minibar cheio de águas, sumos, chocolates, dois cadeirões e mesa. A verdadeira loucura do luxo. Em Portugal seria um duas estrelas.


Depois de jantar, alguns de nós fomos fazer o nosso passeio de reconhecimento pela cidade. No jardim muitas famílias faziam os seus Kebabs. Alguns cafés e restaurantes novos.

Volta dada chegou a agora de recolher para descansar. Amanhã temos, logo cedo um mercado local para visitar.

Hoje acabei as minhas tarefas mais cedo 😁.



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1 Comment


Maria da Luz Moreira
Apr 12

Muito inspirado neste texto! Belo texto! 😘

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