Hoje o dia começou cedo para mim. Hora de levantar combinada 08h:45’. Hora a que me levantei 06h:10’. Por esta hora já o sol entrava pelo quarto a dentro.
Fui dar uma volta. Ver a cidade a acordar. Desde que cheguei ainda não vi a cidade com vida. Sexta quase tudo fechado. É o domingo cá do sítio e ainda por cima no Ramadão. Quem já cá esteve neste altura de Ramadão diz que nunca viu tanta gente a não respeitar as tradições do Ramadão.
Ainda a cidade estava a dormir. Decidi fazer uma incursão pela zona antiga, onde fica o nosso hotel. As ruas são labirínticas, estreitas e com muros muito altos. Já uma padaria estava aberta, mais um ou outro estabelecimento. Continuei mais um pouco e achei que a probabilidade de me perder neste labirinto era grande. Voltei pelo mesmo caminho e fui para a parte nova.
Por esta parte já não me perco. Só no primeiro dia já muitas voltas dei. Já me oriento. Mais umas quantas voltas, com as primeiras lojas abrir, uma loja de galinhas, outras de telemóveis, mais padarias e a cidade foi acordando. Ainda com pouco trânsito.
Voltei ao hotel, pequeno almoço tomado com os companheiros de viagem e era hora de dar o primeiro passeio com o grupo. A esta hora ainda só estávamos 3 viajantes mais o nosso Líder Fábio e o Luis, que irá substituir o Fábio na próxima viajem de setembro. Os restantes iriam chegar dois ainda pela manhã e os outros dois amanhã, domingo. Assim ficaremos os 7 magníficos para seguirmos de Shiraz até Teerão.
O passeio da manhã levou-nos até ao primeiro verdadeiro mercado desta viagem. Não um bazar, mas um mercado. Sítio incrível e autêntico . Frequentado só por locais. Eu hoje decidi levar a camisola do Ronaldo, a do Euro. Objetivo ver a reação dos locais. Quando dizemos que somos portugueses todos falam do Ronaldo. Eu como já sabia que iria ser assim decidi trazer a camisola para o Irão. Tenho as camisolas todas da seleção mas só visto para os jogos de Portugal. Mas claro, foi um sucesso. Fomos logo que chegamos a este mercado abordados por um local, ex emigrante em Espanha, nos anos 90. Esteve dois anos em Espanha e ainda fala muito bem espanhol. Depois emigrou para o Canadá e já voltou a uns anitos. Parece que agora vive dos rendimentos.
Estava à conversa com um amigo de uma loja e nós claro, saltamos logo para dentro da loja, fomos para o balcão tirar uma fotos. Estava criado o ambiente fantástico para conhecer o mercado. Este mercado, não muito grande estava, como todos os dias, numa confusão maravilhosa. Venda de fruta, vegetais, carne, peixe, roupa, com os vendedores a gritar pelos fregueses, motas a passar, gente por todo o lado. E tudo em ruas estreitas. A Margarida comprou 10 tangerinas por 25 cêntimos.
Não compramos Portukal , o nome que pelo Medio Oriente dão as laranjas . Fomos nós que introduzimos as laranjas por estas bandas, daí o nome.
Mais umas voltas e conversas. A camisola do Ronaldo ia fazendo os seus efeitos. Desbloqueou conversas e trocas de contactos com o Fábio. Só gente simpática e sempre preocupados em fazer questão de dizer que o Irão é um país acolhedor e que trata bem os estrangeiros.
Entretanto o nosso líder teve de nos deixar para ir buscar a Cidalina e o seu marido Zé. Nós continuámos a percorrer a cidade. Hoje já com a confusão de uma cidade de quase um milhão e meios de habitantes com a confusão do trânsito, lojas já todas abertas. A cidade tinha renascido do sossego do fim de semana, que começa na quinta à tarde e termina na sexta. Sábado é a nossa segunda-feira.
Onze da manhã e já se começa a sentir o efeito do calor. Por pouco não fui atropelado. Aqui as regras de trânsito normalmente são esquecidas. Nós também já nos vamos habituando a atravessar a rua onde dá mais jeito e quando os carros e motas o permitem. Dizia quase atropelado. Atravessei a estrada e uma mota, em sentido contrário, fez-me uma daquelas razias. Era o meu dia de sorte. Os condutores de motas não usam capacete. Alguns ainda trazem o capacete na mota, mas nunca na cabeça. As ruas de Shiraz são boas, iguais às nossas e os sinais de trânsito funcionam e param nos vermelhos. Para os pedestres é que não há lei. Passar a estrada é quando se pode. Os carros e motas não respeitam, não param quando passamos na passadeira. Rapidamente nos habituamos.
E pela hora do almoço chegaram o casal Cidalina + Zé. Já nós os esperávamos no pátio do nosso hotel. Pousar as malas e almoçar. Fomos ao District 8. Recomendo. Restaurante giro, cheio de movimento e para iranianos abastados. Pagámos 7,5€ por pessoa. Até agora a refeição mais cara que fizemos. Kebab e sumo de romã. Muito bom. Estranhamente estava cheio. Estando ainda no Ramadão seria de esperar que estivesse vazia, nada disso.
A parte da tarde estava reservada para a primeira saída fora de Shiraz. Fomos até ao lago Maharloo, também conhecido por lago cor de rosa. Este lago é salgado e tem 600 km2. Fica a 27 km de Shiraz e vale bem a visita. O sal usado pela população de Shiraz vem daqui. Ficamos até ao por do sol.
Para esta visita ao lago juntou-se uma nova personagem desta história. Mansour. O Mansour tem cerca de 30 anos, é guia turístico, também o nosso condutor para os próximos dias e um grande crítico do regime. Começou por explicar que existia outro lago salgado idêntico a este, perto da fronteira com a Turquia e por ineficiência do Estado acabou por desaparecer. Segundo o Mansour o mesmo irá acontecer ao Lago cor de rosa.
Diz o Mansour que os governantes islâmicos em vez de gastarem dinheiro na construção de mísseis, queimarem bandeiras, financiarem terroristas deveriam preocupar-se com o meio ambiente e com a vida das pessoas. Aqui o Mansour, que fala um inglês perfeito, até mesmo em jantares com Mulás critica o regime e os próprios Mulás. Contou ainda que um ordenado da classe média são cerca de 150€ mês e um quilo de carne custa 10€. Paga uma renda de 100€ mês. Mas o Mansour como guia turístico ganha um pouco acima da média.
A volta ao lago dá para fazer quilómetros andando pela água que não tem mais que uns centímetros. Rapidamente percebemos que nos temos de descalçar. No primeiro contacto começamos a sentir a lama e que com alguma probabilidade iremos escorregar. Melhor tirar o que levamos calçado. A lama começa a ser muita. Chinelos também não é opção. Já adaptados começamos a apreciar a beleza deste enorme lago, rodeado de montanhas. Esperamos pelo pôr do sol, comemos uns doces locais acompanhados de chá quente, que ao fim da tarde já faz frio. Fotos fantásticas que tiramos. Feito, hora de regressar.
Foi chegar ao hotel, tratar de lavar os pés imundos da argila, com os empregados e perguntarem o que nos tinha acontecido e ir para o jantar. Depois de algumas voltas que incluíram a primeira passagem pelo Bazar veio o jantar.
Foi o primeiro restaurante mais turístico que fomos. Para turistas iranianos. Um país desta dimensão e com 80 milhões de habitantes é normal que grande parte do turismo seja interno. Para além disso as sanções e envolvimento do Irão com varias organizações menos recomendáveis afasta muitos potenciais turistas de visitar este país fantástico.
O jantar foi acompanhado com cantores de música tradicional iraniana e os parabéns cantados em inglês e Farsi a um aniversariante. Desta vez a refeição foi de peixe. Partilhei com a Margarida, a companheira de viagem que veio no mesmo voo, desde Lisboa. O restaurante foi o Kathemas. Preço da refeição 2,5€, já incluindo gorjeta, coisa que por aqui não estão habituados.
Já no hotel é já quase na hora do Sporting x Benfica. Consegui ligar a Sport Tv e ver o jogo. Como espetadores tínhamos o Fábio, Nuno (meu companheiro de quarto) e eu do Benfica. Do lado do Sporting o Luís. Um minuto de jogo e já o Sporting marcava. Os 4 a ver no iPhone . Depôs do intervalo fiquei eu e o Fábio. Com muitas perdas de rede fomos vendo e comentando o jogo. 15 minutos antes de terminar era hora do Fábio ir buscar os dois viajantes em falta para completar o grupo. Eu fiquei e vi o Sporting a marcar o segundo golo. Por esta hora já a esplanada do hotel tinha as luzes apagadas e em silêncio . Nem o golo do empate pudemos festejar, pois bem antes disso já vários hóspedes se tinham queixado do barulho que fazíamos. Ups já 01:30 da manhã e ainda sem escrever.
Mas não quero deixar de escrever a crónica do dia. Termino agora. São 03:08 da manhã e daqui a 4 horas é hora de acordar. Assim terminou o dia.
Este blog vai-me custar a produtividade do dia. São 8:08 e eu a ler. Tenho tantas questões, Luís 😄. Vou ler tudo para ver se algumas são respondidas ao longo da viagem. Grande ideia, a deste blog
Espetacular reportagem e fotografias 😊 estou a adorar
E ainda tens tempo para este blog. Um livro 😀
Muito interessante! Confesso que sendo mulher o Irão me deixa com reservas (e inveja pelas mesmas razões) Obrigada pela partilha desta grande aventura Fantásticas fotos !
PS grande jogada a t shirt!
Dá mesmo vontade de estar aí. Não sendo possível, pela descrição e pelas fotografias é como se estive, em modo viajante suplente. Aguardo diariamente pelo próximo episódio.👏👏